Veja quais são as joias raras de cada bairro do Rio de Janeiro
Nem só de endereços famosos à beira-mar se compõe a lista de ruas mais cobiçadas do Rio. Levantamento do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), apurado com exclusividade para o caderno Morar Bem do Jornal O Globo, mostra quais são as vias mais caras dos principais bairros da cidade.
Feita a partir do valor médio do metro quadrado de imóveis anunciados, a pesquisa ratifica a Avenida Delfim Moreira, no Leblon, como a de metro quadrado mais valorizado do Rio (R$ 39.068) — aliás, do país —, mas aponta outras joias da cidade: ainda na zona sul, a Professor Manuel Ferreira (R$ 21.276) é o destaque da Gávea; e a Prefeito Mendes de Morais (R$ 19.791), o de São Conrado. Na zona norte, a liderança fica com a Homem de Melo, na Tijuca (R$ 9.079).
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Ou seja, considerando uma metragem de 100 metros quadrados, por exemplo, o preço médio de um apê na Delfim Moreira fica em R$ 3,9 milhões e na Homem de Melo, em R$ 900 mil. Mas, afinal, o que torna uma rua mais cara que outra? Tranquilidade, mobilidade, comércio? Segundo Maurício Eiras, coordenador estatístico e responsável pelo estudo, as razões variam:
“De forma geral, a localização, seja do comércio ou da tranquilidade. Quanto maior o número de serviços ao redor, melhor. As pessoas querem estar próximas a mercados, escolas, bancos e restaurantes. Mas, em Ipanema e Leblon, é o contrário. A exclusividade e a proximidade da praia é que pesam.”
Eiras esclarece que o levantamento leva em consideração o preço médio do metro quadrado das ruas mais desejadas, mas que há imóveis que custam mais ou menos, até mesmo por uma questão de oferta e demanda do mercado.
“Das ruas que o Secovi pesquisou, que são as mais desejadas, chegou-se ao valor médio, mas há casos à parte. Isso não significa que não há nada mais caro ou barato, até porque alguns endereços são muito exclusivos, como a Delfim Moreira, que, sem espaço para novos empreendimentos, tem renome, visibilidade e status. Aí, as cifras podem ser milionárias”, diz o estatístico, referindo-se à avenida onde recentemente foram negociados apartamentos por valores acima de R$ 30 milhões.
Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio, pontua que, além das particularidades que encarecem cada região, a falta de espaço resulta em uma valorização nas adjacências:
“Um exemplo desta migração é de janeiro de 2010, quando a metragem mais cara passou de Ipanema para o Leblon”.
Cidades e bairros em constante mutação
O professor e antropólogo Marco Mello, coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana LeMetro/IFCS-UFRJ, explica que a cidade está constantemente se refazendo. Isso se deve aos moradores, e também aos empreendimentos e negócios que vão surgindo ou se extinguindo. Nisto, continua ele, cria-se um ciclo, em que o perfil do bairro atrai novos moradores, e este, por sua vez, cria um novo perfil. O que, consequentemente, se reflete nos preços de imóveis, ruas e bairros.
“Um bairro não se define só pelo que os moradores acham dele. Se define também pela visão de moradores de outros bairros. Existem representações diferentes dos lugares. Você tem estereótipos bons e ruins”, conta Mello, e completa: criar uma identificação é um processo que leva tempo, pois você está se desligando de um e se ligando ao outro, criando uma nova vida.
Migração para as vias próximas
Na Zona Sul, especialmente Ipanema e Leblon, quem não pode pagar os atuais valores dos imóveis, costuma migrar da forma menos radical possível. Um exemplo deste movimento é o que tem acontecido em Botafogo, que, afinal, está a uns 20 minutos das praias. Segundo o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi/RJ) , João Paulo Matos, hoje, há um grande movimento em direção ao bairro. Já as construtoras, acrescenta, se esmeram na busca pelos terrenos restantes da região:
“Todos querem construir em Leblon, Ipanema, Botafogo e Flamengo, Gávea e Jardim Botânico. A demanda é grande e os terrenos, escassos.”
Mas essa migração entre bairros, lembra o historiador da UERJ André Azevedo, começou no fim do século XIX, por uma questão sanitária:
“A zona sul começou a ficar com esta fama de nobre neste período, pois o entendimento científico da época era de que as doenças eram causadas pela má qualidade do ar, principalmente, em áreas aglomeradas, como o Centro. Com isso, a elite passou a querer ficar perto da brisa da praia e foi se expandindo para onde hoje é o Flamengo e Botafogo.”
Depois, foi a vez de Copacabana ter os endereços mais cobiçados e caros. Até que, entre os anos 1960 e 1970, Ipanema passou a ocupar a posição, e, mais tarde, o Leblon. O historiador ressalta que, mais recentemente, Tijuca e Méier também ganharam glamour na Zona Norte, como a parte mais nobre do subúrbio.
“O brasileiro busca esta exclusividade como distinção cultural, e as demarcações de espaço no Rio de Janeiro são muito fortes. Não se compra apenas um imóvel; compra-se uma posição na cidade, uma identificação. E isso se reflete nos preços da moradia de maneira geral.”
Veja destaques
Leblon: Com valor do metro quadrado médio de R$ 39.068, a Delfim Moreira é a rua mais cara do bairro (e dos país), seguida pela General Venâncio Flores (com R$ 26.281) e a Rita Ludolf (R$ 26.517).
Ipanema: O destaque é da Vieira Souto (R$ 37.471). Em seguida, vem a Aníbal de Mendonça (R$ 26.105) e a Nascimento Silva (R$ 20.074).
Gávea. Rua Professor Manuel Ferreira (R$ 21.276), Marquês de São Vicente (R$ 17.856) e Artur Araripe (R$ 16.915).
São Conrado. As ruas mais caras são Prefeito Mendes de Morais (R$ 19.791), Avenida Álvaro Alberto (R$ 15.546) e Estrada do Joá (R$ 15.110).
Copacabana. São elas: Avenida Atlântica (R$ 18.554), Joaquim Nabuco (R$ 16.057) e Rainha Elizabeth (R$ 14.446).
Barra da Tijuca. Avenida do Pepê (R$ 17.525), seguida por Lúcio Costa (R$ 15.972) e Gilberto Amado (R$ 11.820).
Botafogo. Destaque para as ruas Eduardo Guinle (com metro quadro médio a R$ 16.247), Sorocaba (R$ 13.896) e Dona Mariana (R$ 13.562).
Flamengo. É a Avenida Rui Barbosa (R$ 12.151), seguida pela Avenida Oswaldo Cruz (R$ 12.087) e Praia do Flamengo (R$ 11.972).
Tijuca. As ruas mais caras são: Homem de Melo (R$ 9.079), Itacuruçá (R$ 8.345) e Andrade Neves (R$ 8.688).
Méier. O destaque é a Rua Silva Rabelo (R$ 6.470).
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