Qual é o imóvel dos sonhos dos brasileiros?
Algumas características são desejadas pelos brasileiros quase que unanimemente. Ter mais de uma vaga na garagem, ser voltado para a face norte e ter varanda, além de boa área de lazer, são exigências muito comuns na hora da compra do apartamento.
Os gaúchos apreciam uma boa churrasqueira no condomínio, mas se for na varanda do apartamento, melhor ainda. Os moradores das capitais do Nordeste adoram uma boa estrutura de clube, com piscina e lazer, para enfrentar o calor. No Rio de Janeiro, infraestrutura de esportes e lazer deve estar aliada à localização perto da praia ou de parques. Em Curitiba, por conta do frio, a varanda deve ser fechada. E em Florianópolis, além da vista para o mar e da churrasqueira, o elevador também é bem valorizado, pois muitos edifícios de poucos andares e só têm escadas.
Para os que moram em São Paulo, a localização próxima ao trabalho conta muitos pontos, assim como estar próximo a uma estação de metrô. Afinal, com o trânsito alucinado da metrópole, ninguém quer perder muito tempo para ir e voltar do trabalho.
Ilhas de Tranquilidade
Na opinião do arquiteto e urbanista Candido Malta Campos Filho, professor emérito da FAU/USP e ex-secretário de Planejamento de São Paulo na gestão do prefeito Olavo Setubal, o imóvel dos sonhos da grande maioria dos brasileiros é aquele que configure uma ‘ilha de tranquilidade’. “Essa ilha começa na moradia propriamente dita. Mas idealmente se estende para a rua e bairro ou vila vizinha. As ruas devem ser tranquilas, com pouco tráfego de veículos e de baixa velocidade, de modo a permitir o uso das calçadas e, quando as ruas são muito estreitas, obrigando os pedestres a andarem pelo meio da rua, os motoristas devem respeitar pedestres, ciclistas e cadeirantes”, comenta.
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Para o arquiteto, por meio de Planos de Bairro pormenorizando o Plano Diretor, é possível, com baixíssimo custo para as prefeituras, usar lombadas para estreitar a entrada das ruas ou simplesmente com mãos e contramãos canalizar o tráfego pesado para vias destinadas à interligação entre vilas e bairros.
“Elas normalmente já existem, tornando-se necessário apenas confirmá-las nesse papel. No interior dessas ilhas apenas o comércio e serviço local e pequenas oficinas devem ser permitidos pelo zoneamento. Ou as ilhas podem ser estritamente residenciais parar garantir a pouca intensidade do tráfego de veículos motorizados”, sugere.
Candido Malta explica que quem inventou as ilhas de tranquilidade com o nome de Neighborhood unit foram os anglo-saxões. Segundo ele, uma tipologia urbanística que se aproxima desse ideal são os bairros planejados que passaram a ser lançados de poucos anos para cá pelos empreendedores imobiliários.
O arquiteto afirma que o pioneiro foi Alfredo Mathias, ainda na década de 1960, com o do Alto do Morumbi. Depois veio Alphaville. São conjuntos de edifícios de apartamentos ou casas dotados de comércio e serviços de apoio no interior do condomínio. “Mas para oferecerem segurança se isolam da cidade, com muros ou grades, o que não é o ideal de uma cidade. Espero que possamos no futuro oferecer a segurança urbana que estimule uma desejada e ideal integração dos moradores dos condomínios com o conjunto dos moradores da cidade, sempre em Ilhas de Tranquilidade”, espera.
Para Malta, a prioridade a ser dada ao transporte coletivo é coerente com a restrição do uso de veículos motorizados no interior das ilhas de tranquilidade. “Esse é o ideal de como morar bem da grande maioria dos brasileiros, de 90% a 95% das pessoas, como atestam as pesquisas empíricas que tenho feito em palestras e nos planos de bairro participativos que tenho feito, como o do Branca Flor, em Itapecerica da Serra, e o de Perus, na periferia de São Paulo”, finaliza.
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