Corretor deveria ter status de médico ou advogado, diz presidente da Fenaci
O corretor de imóveis no Brasil está se tornando cada vez mais um consultor de bons negócios. Mas, apesar da importância conquistada nos últimos anos, o mercado ainda tem um olhar desconfiado para este profissional.
Por isso, o presidente da Fenaci (Federação Nacional dos Corretores de Imóveis), Joaquim Ribeiro, tem indicado a capacitação e a qualificação como alternativas de mudança para este cenário.
“Nos Estados Unidos, ele [corretor de imóveis] tem tanta consideração quanto o médico ou advogado da família. É aí que pretendemos chegar. Mas, isso passa por um processo de formação e aprimoramento dos profissionais, que têm de dominar uma série de conhecimentos, tais como contabilidade, economia, avaliação de imóveis, fundamentos jurídicos, domínio de outras línguas, entre outros requisitos”, aponta.
Mesmo assim, Joaquim Ribeiro afirma ainda que a profissão evoluiu muito recentemente e acrescenta que o mercado já reconhece o corretor como avaliador imobiliário.
Confira a entrevista na íntegra:
CORRETOR DESTAQUE – Como o senhor vê o estágio atual do corretor de imóveis em termos de regularização e evolução profissional dentro do cenário atual do mercado imobiliário?
JOAQUIM RIBEIRO – Recentemente, foram comemorados os 35 anos da regulamentação da lei que consolidou a profissão de corretor de imóveis no País. O reconhecimento oficial da categoria ocorreu em 12 de maio de 1978 por conta da Lei 6.530, que juntamente com o Decreto 81.871/78, outorgou a carta sindical e deu os contornos atuais da profissão de corretor de imóveis. O Dia do Corretor, porém, é festejado em 27 de agosto em função da Lei Federal 4.116, que reconhecia a profissão e foi promulgada neste dia no ano de 1962. Pouco tempo depois, porém, a lei foi revogada por falta de um currículo de formação profissional. A luta foi reiniciada e o reconhecimento acabou sendo sedimentado pela Lei 6.530.
Hoje, no Brasil, somos 270 mil corretores de imóveis, dos quais 130 mil só no Estado de São Paulo e 38 mil na capital paulista. Nos meus 35 anos de experiência na profissão constatar uma evolução muito grande. Se antes era um trabalho rotulado negativamente e quem atuava na área tinha até receio de preencher a ficha do hotel como ‘corretor de imóveis’, hoje, nos diversos cursos ministrados pelas entidades deste segmento, nota-se uma procura intensa por parte de pessoas com ótimo grau de instrução e, inclusive, mais de uma graduação no currículo.
Tal progresso, sem dúvida, é fruto do trabalho que foi desenvolvido ao longo dos anos para a consolidação da profissão por dirigentes atuais e ex-dirigentes das várias entidades que envolvem o segmento, entre as quais a Fenaci, entidade sediada em Brasília, que há 27 anos coordena a atuação de 26 sindicatos estaduais desses profissionais país afora.
Em relação a outros países, qual a sua avaliação sobre a atuação do profissional do corretor de imóveis? Quais as vantagens e os principais gargalos que ainda temos no nosso país?
Guardadas as devidas proporções, estamos nos aproximando gradativamente do nível de qualidade de países do mundo desenvolvido, como os Estados Unidos, onde este profissional tem atuação fundamental em termos de mercado imobiliário e desenvolve uma verdadeira consultoria de bons negócios. Lá, ele tem tanta consideração quanto o médico ou advogado da família. É aí que pretendemos chegar. Mas isso passa por um processo de formação e aprimoramento dos profissionais, que têm de dominar uma série de conhecimentos, tais como contabilidade, economia, avaliação de imóveis, fundamentos jurídicos, domínio de outras línguas, entre outros requisitos.
Como a Fenaci contribui para a capacitação e qualificação dos profissionais desta área?
Entendemos que o caminho dessa ampla qualificação passa, entre outras ações, pela nossa universidade corporativa, a Unimóveis-Brasil, que, acompanhando as principais tendências na área, já pode oferecer, através dos sindicatos filiados, ensino a distância aos seus alunos. Tudo isso por meio de cursos específicos, palestras, oficinas e workshops.
Mas, existem ainda os eventos periódicos, como o Foreci – Fórum Regional dos Profissionais Corretores de Imóveis – que realizamos nas principais capitais do País, levando palestrantes de alto nível e também o curso Transnational Referral Certisfication (TRC), que habilita o corretor a fazer transações internacionais.
Desde o início do nosso mandato, já realizamos o Foreci em São Paulo, Goiânia, Porto Alegre e Curitiba. O próximo deve ocorrer em São Luís, no Maranhão, nos dias 24 e 25 de outubro. Ao lado dos Foreci já realizamos o TRC em Goiás e Curitiba. Na capital goiana, o TRC, inclusive, bateu recorde de público, reunindo 160 participantes. O TRC é realizado graças a uma parceria da Fenaci com o Icrea (Consórcio Internacional das Profissões Imobiliárias). No Brasil, só a Fenaci e o Secovi-SP têm essa parceria.
Outro evento de grande importância para a categoria promovido pela Fenaci é o Conaci, congresso nacional bianual dos corretores de imóveis, que no próximo ano estará acontecendo entre 4 e 7 de maio, em Maceió, Alagoas. Fora isso, a Fenaci ainda incentiva a participação dos corretores de imóveis em grandes eventos internacionais, como o Congresso da National Association Realtors (NAR), dos Estados Unidos, que reúne nada menos do que 1 milhão de associados.
O que é um bom negócio para o corretor de imóveis? Quais aspectos podemos notar quando o corretor foi importante na realização de um negócio?
Um bom negócio para o corretor de imóveis é, sem dúvida, aquele que satisfaz todas as partes – o proprietário, o comprador ou locatário, e, claro, o próprio profissional que intermediou a transação. Um negócio imobiliário gera vários outros e o bom atendimento feito pelo corretor, inclusive a posteriori, certamente fará com que os clientes envolvidos numa transação bem-sucedida voltem a procurá-lo e indiquem o seu nome para outras pessoas.
O que falta ao mercado imobiliário brasileiro em geral para reconhecer o corretor como um avaliador imobiliário também? Por que há essa barreira?
O mercado imobiliário já reconhece o corretor como avaliador. A batalha judicial foi travada contra o Confea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e o Ibape (Instituto Brasileiro de Avaliações de Perícias de Engenharia), que queriam o monopólio desta atividade os profissionais a ela ligados. Os corretores de imóveis saíram vencedores na pendência. E agora isso é questão julgada e sacramentada.
Considerando-se a integração da tecnologia (internet) no trabalho do corretor, como o senhor vê a inserção deste profissional no mercado imobiliário brasileiro daqui a alguns anos?
A tecnologia serve com um grande facilitador para o trabalho do profissional corretor de imóveis. Eu costumo dizer que hoje, por conta da tecnologia, os profissionais praticamente estão em pé de igualdade entre si. O que vai fazer a diferença é o preparo, a informação e o aprimoramento constante de quem resolveu trilhar esse caminho. Como numa corrida de cavalos, a vitória surge na maioria das vezes por um focinho, e a vantagem vai estar com aquele que estiver melhor preparado.
Comentários